terça-feira, 30 de novembro de 2010

Dona Terezinha.

Acordo ás 7 horas e é mais um dia como os outros, Alice irradiando felicidade nos primeiros minutos desperta, sonolenta me espreguiço por um tempo e a levo até o sanitário, no acento que toca música ela se diverte.
Como meu carro está na revisão minha mãe nos busca e ficamos na casa dela, quando ela vai trabalhar, Alice chora e quer ir junto.
O Ziggy me olha e é então que este dia deixa de ser como os outros, já faz mais de um ano que a vida dele mudou, Alice apareceu e com isso a atenção que dávamos á ele diminuiu. Minha consciência lateja e não quero mais continuar a procrastinar os passeios que devo á ele. Alice no carrinho, Ziggy na coleira, saquinho para as eventuais necessidades caninas.
Já na esquina avisto minha vizinha Terezinha, penso se viro a esquina e sigo meu trajeto pré determinado, ou subo 10 passos e vou até ela. Num encontro passado já pude perceber a importância de uma conversa para aquela senhora, senhora? essa palavra não lhe cabe, não por falta de respeito mas por que a vejo como semelhante, por mais que eu tente chamá-la de senhora, depois de algumas palavras já a chamo de "você". Ela tem um corpo tão frágil, é branquinha e franzina, conserva uma certa elegância, tinha acabado de tomar banho e os cabelos grisalhos um pouco acima da altura do ombro, estavam penteados para trás. como minha mãe fazia quando eu era pequena.
Conversamos sobre o Rio, Alice, vejo que ela carrega uma câmera digital compacta, a primeira vez que conversamos eu estava fotografando na calçada da casa dela, onde tem muitas flores, me lembro que prometi trazer as fotos para que ela visse, e não cumpri.
Me conta sobre um projeto que envolve arte, o intuito é que pessoas desamparadas não se envolvam com drogas, acho a idéia meio romântica, mas penso que posso ajudá-la. Aparece Ananias, outro vizinho que a ajuda como pode (esse cara também de uma certa idade, tem uma horta de brilhar os olhos), ela lhe pede que arrume a antena e eles ficam nesse assunto por alguns minutos, a Alice quer seguir em frente, e o Ziggy mija no poste.
Eu quero fotografá-la. Alguns entenderão isso, é um desejo da alma guardar com arte o cotidiano. Acredito que a fotografia, mais que isso, durante e depois de feita seja um material de pesquisa (isso soa meio distante, mas não tenho palavras para expressar o que significa), o olhar, os traços do rosto, toda a expressão. Me lembro da última sessão de fotos em que Marilyn Monroe se mostrou quem realmente era.
É quando ela me pede se pode fotograr nós três. Estou do outro lado agora, geralmente eu diria "a fotógrafa sou eu", mas com respeito me posiciono. Depois uma de cada um, Ziggy e Alice. Ela me mostra no visor e eu a elogio. Ela fala tão bem e parece uma mulher culta. Quem é ela? Quem já foi?
Sigo meu caminho e ela se prepara para fotografar um rosa branca que está dentro do seu jardim, foi para isso que ela havia saído de casa, um grande esforço pois suas passadas são bem lentas. Me ofereço para ajudá-la na volta para casa, ela recusa, insisto mas ela me dispensa. Mesmo pensando que ela gostaria de ajuda, sigo meu caminho. E voltarei.
Alice completou um ano no dia 15, escrevo sobre isso depois.







3 comentários:

  1. e Alice sendo apresentada a um fone de ouvido ao som do Thiago Pethit as 7 da matina, não recebe uma memória também?
    chiquita chiquita!!!
    oreguinisdaminhapizza

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  2. "Quem é ela? Quem já foi?" Já fiz essas perguntas em relação à minha mãe. Ela tem 61 anos e já apresenta alguns problemas de memória. Agora eu e minha irmã estamos insistindo para que ela escreva suas memórias, o que nos fez conhecer muito do lado humano dela. E a história da vida dela é linda. :D É uma sugestão para a Dona Terezinha; não necessariamente escrever, já que ela gosta de tirar fotos, mas compor algo que demonstre coisas que ela gostaria de repassar para as pessoas.

    Que texto lindo, adoro seu blog. Beijos.

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  3. Conheço ela. Já fez uma coisa importante para mim. =]

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